quinta-feira, 26 de março de 2009

Quantas Tantas... Mel Adún

Eu e Mel Adún (minha poeta preferida) - Salvador, 2009.


Quantos euteamos você já disse por aí?
Quantas mulheres sorriram
Ao ver seus olhos brilharem de amor por elas?
Quantas foram elas?
Quantas choraram baixinho
Com a chegada do novo amor
E deixaram de fazer pedidos a seu favor?
Quantas invadiram seus sonhos?
Quantas tantas...
Quantas putas?
Quantas santas?
Quantas tontas?
Quantas?
Mais de mil beijaram a sua boca?
Mais de cem se fizeram de louca?
Mais de dez juraram amor eterno
E construíram castelos
E com você foram morar?
Com quantas tantas você sonhou um lar?
Quantas mulheres carregaram o seu filho?
Quantas mulheres gozaram com a sua língua
Entre as suas pernas
Numa noite qualquer?
Quantos beijos formam uma paixão?
Quantos não?
Quantas tantas foram nada
Ou algo muito pequeno
Tão sereno que não virou poesia?
Quantas delas foram sina?
Quantas mulheres foram pecados
Ou pecaram ao te amar,
Assim, de graça, com graça
Ou não?
Quantas?
Com quantas você pretende envelhecer,
Trocar carinho até morrer,
Sentado numa cadeira de balanço?
Quantas mulheres te tiraram do sério?
Quantas inspiraram livros
Ou fizeram feitiço?
Ou mesmo o jogo do contente?
Quantas delas eram sementes
Que poderiam germinar e florescer?
Quantas mulheres te mataram e
Quantas tantas lhe fizeram morrer?
Quantas?
Tantas?

Publicado em Cadernos Negros 29 - Quilombhoje, 2007.