quarta-feira, 24 de junho de 2009

GAMELEIRA * - Por Elizandra Souza




“Seja em qual circunstância for
É em legitima defesa
O escravo que mata seu senhor”

Assim, Gama defendia os seus
Advogado por si mesmo
Autodidata das leis...

No esquecimento das páginas
Oficiais de nossa história
Luiz Gama -um guerreiro - sem memória

De filho liberto a escravo
Vendido pelo próprio pai
Lutador por um país sem rei

Trinta anos antes da mentirosa abolição
Pedia dinheiro na rua - contribuição
Para a compra das alforrias dos irmãos

Insubmissão, herdada de Luiza Mahin
Sua majestosa mãe que deixou a Bahia
Temida pelos senhores – Malês, Levante!!!

Avante, não deixou legado financeiro,
Mas eis aqui conselho para Benedito seu herdeiro:
“Crê, que o estudo é o melhor entretenimento”
“E o livro o melhor amigo”
“Desconfie sempre dos poderosos”

Gama, Gama, Gama
Gameleira de raízes profundas
Agarre-se a um dos seus galhos e não se descuida!
A diabete matou esse homem,
mas não a essência dos seus ideais...

“Seja em qual circunstância for
É em legitima defesa
O escravo que mata seu senhor”

Matamos nossos senhores
Quando pegamos em canetas
O estudo é um tiro certeiro...
Modernas cartas de alforrias

Vamos nos defender
Seja na palavra escrita ou na falada
Poesia ou embolada...
Beba na gamela da fonte de Luiz Gama.
Gameleira de raízes profundas e profanas.


Elizandra Batista de Souza, publicado na Revista Grap. Grafismo e Poesia, Dezembro 2007.


* É uma árvore extremamente importante para os iniciados nas Religiões de Matriz Africana, nela são guardados fundamentos, histórias, o axé sagrado... é uma das que mais Tempo vive, sua força atravessa séculos guardando a nossa memória ancestral, creio que uma das poucas equivalentes a ela é o grandioso e milenar Baobá.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Edições Toró no Sesc Pinheiros, 25 de Junho!



Dá licença, povo.

Bolando o fechamento da exposição Blooks, que no SESC Pinheiros desde maio discute as tranças entre versos e computz, entre escrita e cyberninhos, entre literatura e tecla internética, a Edições Toró lança e apresenta sua cena de Poesia, Atabaque & Mandinga.

Editando uma roda no chão do SESC, a Toró vem com a Poesia das ladeiras de Akins Kinte e de Allan da Rosa, com a dança de rua mesclada ao giros d´Afro de Mateus Subverso e do B-Boy Jeff, mais a geometria da percussão de Márcio Nêgo Folha.

Vamo nóis, por ventos que vem de longe no tempo, mas com a quentura do nosso sol nesses dias frios. Vamo com uma pitadinha de teatro, tocando nossa flauta e jogando nossa angola.

E a gente tá aqui chamando pra participar com a gente, pra apreciar ou vaiar, oferecer abraço ou jogar tomate, mas de frente.

A primeira presença é quinta agora, 25 de junho, às sete da noite. No SESC Pinheiros: Rua Paes Leme, 195. Entrada franca e verdadeira.

Cola no nosso sítio, www.edicoestoro.net, pra ver a confecção do convite dendezado pelo Mateus Subverso. E pra ver e ouvir as águas dos nossos livros, programas de rádio-literatura, entrevistas, vídeos e pesquisas de quem pratica os estudos nas praias paulistanas, na literatura periférica e na africania da educação e da transmissão do saber.

Convidando de verdade e agradecidos pela atenção,

Edições Toró.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

África e Sertão: à maneira de um Manifesto.


Ontem fui assistir ao espetáculo Mercadorias e Futuro, com o Lirinha no Projeto Cultural Antitodo - Seminário Internacional de Ações Culturais em Zona de Conflito e a abertura foi este lindo poema da poeta pernambucana Micheliny Verunschk. confira e me digam o que acham. Aproveitem para assistir as peças e os seminários.

África e Sertão: à Maneira de um Manifesto
Por Micheliny Verunschk


Tomamos a África pela mão direita e o Sertão pela mão esquerda.
Ela, nossa mãe desconhecida.
Ele, nosso pai imaginário.

Dos berberes e soninkés é nossa carne de areia.
Dos vaqueiros encourados é nosso sangue mais denso que o real.

Nossa mãe multiplica sua face no sexo das meninas violadas, infibuladas,
prostituídas.

Nosso pai multiplica seu coração no peito dos meninos abandonados,
alcoolizados, à margem da margem de um rio seco e pedregoso ao qual chamamos
de História.

Nossa mãe tem os olhos do céu de Moçambique.

Nosso pai tem a pele do poente do Moxotó.

Declaramos que nossa mãe está na fala, no sabor, na dança e na música que
nos move a alma.

Declaramos que ela é múltipla e única, terrível e bela.

Mas não a conhecemos senão pela História, que é sempre parcial, pelas
estatísticas que são sempre sem rosto ou peso de carne humana, pelo olho
fotográfico que ousa nos dar a cara do nosso tempo mas que nem sempre revela
que um ponto de vista pode ser também uma trave que nos impede a visão.

Declaramos que nosso pai está no esqueleto de concreto de toda cidade desse
país, que sua fala acentuada é a marca de nossa memória, que sua coragem é o
território ao qual ainda não nos aventuramos por completo.

Nosso pai e seu rosto ainda por se construir. Nosso pai e seus mitos por se
confirmar.

Nossa mãe e nosso pai ainda mal contados, mal traçados, e ainda que amados,
tão mal-amados.

Nossa mãe e nosso pai, tanto sol, tanta escuridão.

África e Sertão, de mãos dadas.

Tão pobres. Tão ricos.

Tão distantes. Tão unidos.


Na mina que explode, no vírus que explode, na fome que explode.

Na beleza que é potência, na vastidão que é potência, no vir-a ser que é
potência.

África e Sertão.

Minha mãe, meu pai.

Tua mãe, teu pai.

Nossa mãe, nosso pai.

África e Sertão.

Terra prometida.

Colo desejado.

Expectativa.


Acesse:
http://www.itaucultural.org.br/antidoto2009/

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Monólogo Informal - Ana Paula Risos..Não percam!!

É com muita satisfação, que divulgo essa peça. Espero que compareçam. Ana, parabéns por visibilizar a mulher negra nos seus trabalhos.