sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Favela, Mulher!

Ilustração do Koyote -publicada no Punga, 2007.



Favela, mulher corajosa!
Nem criança, nem idosa
Nas mãos flores e lanças
No olhar constante esperança.

Favela, mulher maravilhosa!
Nem arrogante, nem orgulhosa
Muitas vezes parceira na dança
Outras solitária nas andanças.

Nas escadarias de tua geografia
Correndo feito menina
Seu sorriso espada que desafia.

No coração passou parafina
Abraça o caráter que não desfia
Já a face encharcou de purpurina.
Autora: Elizandra Souza
Publicado na Antologia Negrafias, 2008.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

AFAGOS Por Elizandra Souza



Diante do espelho, sentia-me nua, despida de minhas máscaras, olhando o meu avesso. Como ele descobriu tão rápido meu ponto fraco? Por que colocou aqueles dedos em meus cabelos? Por que tanta carência de um afago? È estranho quando alguém te desvenda e relata suas fraquezas.
Na infância eu não gostava de pentear os cabelos. Não sei a razão, só me lembro que minha mãe esticava bastante e tenho a impressão de que meus olhos tornaram-se meio puxados de tanto que ela escovava. Na época, era um sonho ter o meu cabelo levado pelo vento, mas ele vivia preso que nem pitbull. Passei a não gostar do toque, não sei, parecia sentir dor.
Eu estudava numa escola pública em Moema, bairro considerado nobre. Minha mãe trabalhava lá perto e conseguiu essa vaga. Na primeira série, minha professora se chamava Rosana e eu a achava linda com seus cabelos longos e lisos, quando crescesse sonhava em ficar parecida com ela. Nesse período eu queria impressioná-la, fazia de tudo para chamar sua atenção com minhas perguntas inteligentes, caprichava nas lições, pedia ajuda, mas ela não olhava nos meus olhos e me atendia com uma má vontade.
Teve uma segunda-feira em que a diretora Dona Clarice foi falar com a minha Profi (eu adorava chamá-la assim). Recomendou que a mesma verificasse se nós, seus alunos, tínhamos piolhos. Caso alguém tivesse era para ficar uma semana em casa.
Em seguida, a Profi olhou nos meus olhos. E ouvi o meu nome.
- Dara, venha até aqui!



Meu nome significa “a mais bela” e era como eu me sentia se essa cena fosse congelada. Pela primeira vez, a Profi tocou em meus cabelos com as pontas dos dedos, como se eu a espetasse. Ela soltou as minhas marias-chiquinhas, desfez minhas tranças e saiu à procura de um inquilino. Para sua decepção e frustração eu não tinha nenhum. Até hoje, eu não entendo porque ela só olhou o meu cabelo. Ela não podia ter feito aquilo comigo, ainda mais na frente de todos. Eu olhava para os demais alunos e eles riam. Eu ouvia as gargalhadas daquelas meninas com seus cabelos lisos e soltos, a Profi deveria verificar os cabelos delas que estavam mais propícios à proliferação de piolhos do que o meu que sempre estava preso.
Essa não foi à única vez que passei por situações constrangedoras envolvendo meus cabelos crespos.
Eu adorava balé e fazia inúmeras piruetas pela casa, surgiu um curso desses perto da minha escola e minha mãe resolveu me matricular para que eu ocupasse o meu tempo. Fomos comprar os meus materiais de bailarina na Rua 25 de março: vestidinho, meia-calça, laço para cabelo e as panturrilhas. Tudo rosinha como sempre quis.
Eu estudava pela manhã e três vezes na semana nos dias pares tinha meu balé à tarde. Tivemos também que mudar a rotina dos meus cabelos. Antes, eu usava apenas as tranças marias-chiquinhas.Mas, durante o curso, ganhei um novo penteado, os famosos coques, eram lindos, mas davam trabalho, para que o meu ficasse impecável como os das outras bailarinas. Minha mãe se esforçava bastante, colocava um monte de grampos, que nenhum fiozinho rebelde escapar, passava gel e colocava o laço. Lá estava eu pronta para as minhas coreografias.
Numa sexta-feira no final da aula, a professora do balé avisou que na segunda-feira nos queria de cabelos soltos, pois duas cabeleireiras arrumariam eles para a apresentação no Teatro Zanzibar no mesmo dia.
Assim começou meu desespero, como eu iria de cabelos soltos. Aquelas mulheres não saberiam arrumá-los e eu ficaria feia. Quando minha mãe foi me buscar, eu estava com os olhos vermelhos de tanto chorar.
- Que foi meu brigadeirinho?
- Mãe, a professora do balé quer que os nossos cabelos estejam soltos na segunda. E eu não quero.
- Filha, a mãe te leva na Tia Dulce e ela fará um penteado lindo para a apresentação. Prometo que será a mais bela.
Assim fez, no dia seguinte fui à aula. A Profi até olhou pra mim. Cheguei ao balé com a minha mãe, que logo foi conversar com a professora, explicou meu desejo de me apresentar, elas até discutiram, mas permaneci com o penteado da Tia Dulce e minha coreografia foi a mais elogiada.
O tempo passou e as marias-chiquinhas foram ficando no fundo da gaveta dando espaços para a chapinha e os alisamentos. E eu sempre com os meus não-me-toques. Dava muito trabalho parecer o que eu não era, porém era uma tentativa.Eu não me achava bonita, me sentia a desproporção em pessoa, não se enquadrava no padrão de beleza cultuado, pele sem definição, se tinha algo que gostava em mim..talvez os olhos.
Conheci muitos rapazes, mas namorei poucos. Acho que sou muito seletiva para relacionamentos. E, em alguns casos, eu gostava e eles não. Amizades sempre fiz muitas, principalmente com rapazes. Uns até confundiam, eu estava apenas sendo legal e não dando mole como eles acreditavam.
Numa ocasião, a convite de minhas amigas fui ao baile de rap Harmonia, eu não tinha muito apreço por esse estilo musical. No entanto, era bom respirar novos ares e até conhecer outras pessoas.
Dançando na pista, observava como os demais faziam e não tinha muita segurança nos meus movimentos, mas minha memória corporal estava relembrando o bailar dos meus antepassados.
Um rapaz se aproximou, as pernas começaram a pesar e eu fiquei meio estática, pois ele me observava e a timidez já se fazia presente, comecei a ficar repetitiva colocava e tirava os cabelos atrás da orelha.
Ele se aproximou e perguntou o meu nome.
- Dara.
- A mais bela, não é?
- Sim, como você sabe o significado?
- O meu nome é Jawari e também é africano. Significa “paz amorosa” e é da região do Senegal, quando eu estava pesquisando o meu nome estava ao lado do seu. Por isso, não esqueci mais.
- Hum, paz amorosa? Ambos rimos
Como aquele preto era lindo! Tranças enraizadas até a altura dos ombros, pele bem retinta, sorriso perfeito. Conversamos pouco, apesar de bonito, o achei um tanto “assanhadinho” e não lhe dei tanta confiança. Mas, num pequeno descuido ele me roubou um beijo, a princípio, fiquei muito irritada. Que deselegância! Contudo, gostei do beijo.
Ficamos juntos até o final do baile. Ele anotou o meu celular e eu não peguei o dele.
No dia seguinte, ele me ligou, eu ainda estava dormindo e nem reconheci a voz e nem lembro muito que conversamos. Só lembro que ele me convidou para um show de samba, que aceitei prontamente.
Jawari me causava euforia, sei lá, não sei descrever que sentimento era aquele. À noite ele ligou confirmando a compra dos ingressos e informando que o show serei dois dias depois. Nunca dois dias foram tão eternos, eu só pedia que o sol fosse embora para que a luz da lua viesse.
Chegou o grande dia, lá estávamos um de frente ao outro, assim que me viu caminhou em minha direção trajando um belo sorriso e me cumprimentou com um delicioso beijo na boca. Assistimos ao show, muito bom por sinal. Mas ainda era cedo e decidimos ir ao cinema. Não tinha filmes bons em cartaz, mas escolhemos um para ficarmos mais tempo juntos. Eu não conseguia me concentrar na tela, nos beijamos o tempo inteiro. E minha auto-censura dizendo que para um segundo encontro quem estava “assanhadinha” era eu.
Depois da sessão de beijos, ele me levou no ponto de ônibus. Fui flutuando em nuvens altas. Quando entrei em casa o telefone tocou, era ele querendo saber se cheguei bem. Agradeceu os momentos especiais ao meu lado.
No decorrer da semana não nos vimos, só nos comunicamos pelo telefone. Eu não tirava esse homem da cabeça.
Minha mãe não estaria em casa no final de semana e convidei Jawari para almoçar comigo, ele aceitou de imediato. Preparei uma deliciosa lasanha, arroz e frango grelhado. Ele comeu com tanto apetite que minha imaginação fluiu para outras dimensões.
Estávamos conversando, eu deitada em seu colo e ele acariciando os meus cabelos, eu estava me sentindo incomodada, procurei não demonstrar esse meu mal-estar, mas a vontade era de arrancar a mão dele dali.
- Dara, por que você alisa o cabelo?
- Você não gosta?
- Sinceramente, não. Prefiro que os cabelos estejam naturalmente crespos. Antes eu não gostava dos meus cabelos e os mantinha sempre raspados. Depois que li o livro autobiográfico do Malcon X, mudei meus conceitos de beleza. Sinto-me muito mais feliz assumindo minha identidade e me aceitando como sou.
- Eu aliso porque facilita e acho que fica bem melhor.
- Você já tentou ficar sem alisar?
- Ainda não.
Nesse fim de semana só conversamos, quem o mandou cutucar nas minhas feridas.
Fiquei a semana inteira olhando para os meus cabelos e pensando no que Jawari falou a seu respeito.
Resolvi encontrá-lo sem chapinha no cabelo, passei creme de pentear, afaguei as pontas, eu não me sentia bonita, mas fui mesmo assim. Ele me convidou para ir à sua casa, não ia ter ninguém por lá, quando ele me viu, ficou supreso com a minha atitude e foi logo elogiando meu novo estilo.
Naquela tarde só se ouvia Max de Castro “Um flash reflete,fotografa os seus pensamentos,sua boca, seus beijos.Ah, meu Deus não acredito estou vivendo um romance que não tem pressa.Estou aonde quis chegar... Uma idéia, relax.Se demorar, se demorar o bicho pega. Canto um bolero. A água quente me faz relaxar.Um sexo, dois sexos.A noite inteira assim, sem sair do lugar. O meu corpo, o teu corpo, a sua inteligência muscular. O teu corpo, seu rosto, a boa brincadeira de me testar...”
Suas mãos pousando nos meus cabelos, massageando minha nuca, meus seios, meu eu, meu nós...Sua língua a percorrer o meu corpo, desvendando os meus segredos...

Autora: Elizandra Souza, texto publicado nos Cadernos Negros 30 - Quilombhoje, 2007.

Fotos: Juliana Santos

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Nossas lutas...

Foto: Sebatião Salgado




O Cordel da Reforma Agrária


Por Medeiros Braga

Como disse Bertold Brecht
Em lições claras, atentas:
“As águas que fazem o rio
Não são em si turbulentas,
Mas, as margens que comprimem
É que tornam violentas.”

Já dizia Patativa
Nos seus versos sem zum-zum,
Que essa terra é desmedida
E devia ser comum,
Devia ser repartida
Um taco pra cada um.

Há mais de cinqüenta anos
Protestava já de pé
A ganância pela terra
Dos homens de pouca fé,
Num cantar de patativa,
Patativa do Assaré.

Consumido pelo tempo
Meio século se passou,
Ficou o campo deserto,
A cidade, então, inchou
E a relação social
No país se complicou.

O Brasil está quebrado,
Falta desenvolvimento,
O desemprego caminha
E faz do homem o fermento
Do processo que resulta
No mundo mais violento.

Ontem filmes que nós víamos
De bandido e de terror
Assistimos, hoje, ao vivo
Indignados do horror
Das cenas que, tão chocantes,
Passam no televisor.

Crianças abandonadas,
Tratadas de formas cruas
Feitas são em prostitutas
Maquiadas, quase nuas,
Outras, pivetes que cheiram
Entorpecentes nas ruas.

O poder preocupado
Em manter o capital
Longe do risco, da crise
Em escala universal
Fecham os olhos, adormecem
Ante à questão social.

Ele bem que poderia
Numa ação prioritária,
Em respeito ao compromisso
Feito com a classe operária,
Sem o neoliberalismo,
Fazer a reforma agrária.

Fazer a reforma agrária
É por um ponto nos is,
É tomar a decisão
Que o povo sempre quis
E sempre achou necessária
Aos problemas do país.

Foi feita a reforma agrária
Por toda América Latina,
Há mais de século no México
E por toda área andina:
Bolívia, Venezuela,
Peru, Chile, Argentina...

Porém, aqui no Brasil
Sempre ao povo foi negada,
Somente com João Goulart
Pôde ser reivindicada
Pelas Ligas Camponesas
Para ser logo implantada.

Porém, um golpe de Estado
Seguido por ditadura
Depôs o seu presidente,
Criando nova estrutura
O que levou a reforma
Agrária pra sepultura.

No entanto, o movimento
Tava bem organizado,
Pois, as Ligas Camponesas
Fazia o trabalho ousado
De educar operários
Do Nordeste em cada estado.

Em Pernambuco a figura
De Francisco Julião
Se tornou numa legenda
Quando com disposição
Levava aos trabalhadores
A coragem e a lição.

O Engenho Galiléia,
Vitória de Santo Antão,
Estado de Pernambuco,
É símbolo de insurreição
Que lembra a luta da terra
Com Francisco Julião.

Falar em reforma agrária
Jamais se deve esquecer
As prisões, torturas, mortes
Que puderam acontecer
Aos que tinham a ousadia
De dar um não ao poder.

E se de um lado assustava
Pelas ações de terror,
Por outro o regime tinha,
Pra poder se contrapor,
O Estatuto da Terra
Ligado ao trabalhador.

Mas durante vinte anos
Não foi feito quase nada,
Na verdade, o estatuto
Veio pra manter controlada
A fúria dos camponeses,
Sua luta organizada.

Veio a Nova República
Que nada trouxe de novo,
Todos os seus presidentes
Foram um engodo, um estorvo
Às promessas, compromissos
E às esperanças do povo.

Mais de vinte anos e vai
O povo em pior estado,
Só o que houve de bom
Em tudo que foi criado
Foi o forte Movimento
Dos Sem-Terra organizado.

Dizem do MST,
Mesmo sem lhe querer mal,
Que há momentos de luta
Em que ele é radical,
Sem querer compreender
Os métodos do capital.

Como disse Bertold Brecht
Em lições claras, atentas:
As águas que fazem o rio
Não são em si turbulentas,
Mas, as margens que comprimem
É que tornam violentas.

Se feita a reforma agrária
Se sela um acordo de paz,
Se acaba a briga no campo
Contra multinacionais,
Latifúndios ociosos
Com seus crimes sociais.

Sumirão todas milícias
De fazendeiro e grileiro,
As penosas ocupações
Pelo solo brasileiro,
Os confrontos militares
Por vezes contra posseiros.

Ficarão Corumbiara
E Eldorado dos Carajás
Na mais amarga lembrança
Que não deve apagar mais,
Pois, a mancha rubra mostra
A barbárie logo atrás.

Que a história nunca apague
Todos crimes perpetrados,
O nome daqueles líderes
Na luta dos explorados,
Os mártires leais que foram,
Cruelmente, executados.

Que o MST
Na luta contraditória,
E mirando o objetivo,
E seguindo a trajetória,
Preencha com seu suor
Essa lacuna da história.

Que procure unir o campo
E convencer a cidade
Numa luta imprescindível
Para uma sociedade
Que quer um mundo melhor
Para toda humanidade.

A reforma agrária vem
Em prol do setor urbano,
Se a renda no campo cresce
Também cresce mês e ano
A procura por produtos
Da indústria, sem engano.

Com isso cresce a oferta
De empregos industriais,
De comércio, outros serviços
Que passaram a vender mais;
Multiplicador de empregos
Como está nos manuais.

A reforma agrária é boa
Pra melhorar a gestão
Dos municípios, estados
E até mesmo da nação
Que não terá as doenças
Causadas por inanição.

Com uma reforma agrária
Vai desinchar a cidade,
E os gastos com segurança
Pela marginalidade
Também serão reduzidos
Conforme a tranqüilidade.

Vai reduzir nas cidades
Os riscos com moradia,
Com casas feitas de tábua,
De papelão, lataria,
Uma afronta ao ser humano
Lá jogado, à revelia.

Com muita gente no campo,
Tendo emprego e o que comer,
Muitas doenças endêmicas
Irão desaparecer,
Também reduzindo custos
E os trabalhos do poder.

A reforma agrária é boa
Para as organizações,
Um processo imprescindível
Para a vida das nações,
Que ditarão democráticas
As próprias populações.

Com um povo organizado
Como estão hoje os sem-terra,
Com exemplo de gestão
Que transparente se encerra,
Sentirão os desonestos
Perder a batalha e guerra.

Com o povo dominando
Conhecimento e saber
O país vai avançando
No sentido de vencer
Maus costumes com raízes
Nas entranhas do poder.

A reforma agrária é boa
Para o homem e a natureza
Porque vai poder plantar
Dando mais verde e beleza
Sem agredir sua fauna,
Sem causar mais avareza.

Com a terra posta à mão
Do pequeno produtor
Os alimentos da terra
Voltarão a ter sabor,
A ser saudáveis à vida,
A ser mais puro em teor.

Mas, o governo se curva
Ao poder dos ruralistas
Negando a reforma agrária
Necessária e realista
Para agradar os dois lados
Com argumentos sofistas.

Aquela reforma agrária
Que foi de público acertada,
Fazem tudo os ruralistas
Pra que seja escanteada,
E a verdade é que o governo
Não tem feito quase nada.

Foi substituída
Por programas sociais,
Moradia, luz no campo,
Outros assistenciais,
Como a água e a saúde
Que ajudam a viver mais.

Mas, por o homem no campo
Como centro da questão,
Isso não vem sendo feito
Com a devida precisão...
Quando muito à conta-gota
Pra conter a insurreição.

Nem os casos quilombolas
Que tanta injustiça encerra,
Homens que mais se parecem
Sobreviventes de guerra,
Não foram ouvidos, nem dado
A garantia da terra.

Enquanto isso, no campo
A grilagem continua,
A prática do escravismo,
A violência mais crua,
A agressão ambiental
Na flora se perpetua.

Da forma como se encontra
Concentrada a produção,
Com uso de agro-tóxicos,
Com transgênicos em ação,
É posta a vida em ameaça
De toda população.

Dos transgênicos, até hoje
Nada ficou constatado
Se pode ser cancerígeno
Se saudável e do agrado,
Pois, só do lucro se sabe
Que foi fácil confirmado.

A União Européia
Constatou, recentemente,
O milho contaminado
A partir da sua semente
E proibiu ser plantado
Pelo vasto continente.

É o mínimo que um governo
Com responsabilidade,
Diante duma ameaça
À vida, por enfermidade,
Pode e deve, então, fazer
Por uma sociedade.

Os pequenos produtores
Usam a boa adubação
Com sua matéria orgânica
Posta em decomposição,
Ou esterco de galinha
Que mais torna fértil o chão.

A vida no campo é bela
Não há nem comparação,
A família que produz
Tem da verdura ao feijão,
Tem um ar pra respirar
Sem a menor poluição.

A vida começa bela
No campo, já madrugada,
Com o belo canto do galo
E o cantar da passarada
Na madrigal sinfonia,
Magistralmente, tocada.


Fonte: Site do MST
http://mst.org.br/


sábado, 14 de fevereiro de 2009

DEFICIÊNCIAS - MÁRIO QUINTANA





"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.




"Louco" é quem não procura ser feliz com o que possui.




"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.




"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.




"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.




"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.




"Diabético" é quem não consegue ser doce.




"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer.




E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois:"Miseráveis" são todos que não conseguem falar com Deus."A amizade é um amor que nunca morre."




Mario Quintana (escritor gaúcho nascido em 30/07/1906 e morto em 05/05/1994 ."
Esse poema foi a minha Professora de inglês Gizele que levou para a classe...È povo, vamos cuidar de nossas deficiências.
beijocas pretas

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Samba D'Elas - Herança de Ciata

Fotos: Elizandra Souza


Ontem estive no Samba D'Elas - Herança de Ciata, é uma roda de samba composta por mulheres. Criada em março de 2008, por compositoras e instrumentistas atuantes na samba de São Paulo com Elisa e Zanza (Samba da Tenda); Ana Elisa e Cida (Samba da Vela); Camila e Digina (Feitiço de Mulher) com o objetivo de mostrar composições próprias e abrir espaço para outros sambistas como Sandrinha Lima, Soraia, Flavia Oliveira, Lão Gomes, Marco Moraes, entre outros.

Elas se apresentam no Raízes Bar, que pertence a sambista Gê Manhosa, o ambiente muito agradavél e descontraído, com boa música e exposição de fotografias e vinil referenciando sambistas que imprimiram sua história no samba.

Para que quiser conhecer mais:



Dia 26/02 (quinta-feira),das 20h ás 23h30 - Raízes Bar - Rua Guilherme Rudge, 100 (terceira travessa atrás do Barracuda). Penha, Zona Leste. Entrada franca. (11) 8491-1856 com Gê Manhosa.

Dia 06/03 (sexta-feira), das 19h ás 21h30 - Ação Educativa - Rua General Jardim, 660 ( próximo do Mackenzie, Santa Casa e Sesc Consolação). (11) 3151-2333 ramal 126 ou 166.




Samba D'Elas - Herança de Ciata





Ouviu? Sentiu?

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Literatura erótica escrita por mulheres


Após o Encontro de Literatura erótica.Fiquei interessada em procurar produções femininas sobre o tema.
Para quem não pode comparecer na abertura do encontro, o poema Adoro Pau mole da escritora Maria Rezende foi declamado pelo Marcelino Freire.
Lembrei desse outro da Elisa Lucinda, da qual admiro o trabalho literário..acho que ela consegue ser maravilhosa na escrita...
Tem também o conto de Mighian Danae - Resposta...
Fica ai as dicas para o deleite das mulheres e dos homens...
Axé !




ADORO PAU MOLE - MARIA REZENDE

Adoro pau mole.
Assim mesmo.
Não bebo mate
não gosto de água de coco
não ando de bicicleta
não vi ET
e a-d-o-r-o pau mole.

Adoro pau mole
pelo que ele expõe de vulnerável
e pelo que encerra de possibilidade.

Adoro pau mole
porque tocar um pressupõe a existência de uma intimidade
e uma liberdadeque eu prezo e quero, sempre.

Porque ele é ícone do pós-sexo
(que é intrínseca e automaticamente- ainda que talvez um pouco antecipadamente)
sempre um pré-sexo também.

Um pau mole é uma promessa de felicidade
sussurrada baixinho ao pé do ouvido.
É dentro dele,
em toda a sua moleza sacudinte de massa de modelar,
que mora o pau duro e firme com que meu homem me come.










Cor-respondência - ELISA LUCINDA


Remeta-me


os dedos


em vez de cartas de amor


que nunca escreves


que nunca recebo.


Passeiam em mim estas tardes


que parecem repetir


o amor bem feito


que você tinha mania de fazer comigo.


Não sei amigos


e era seu jeito


ou de propósito


mas era bom


sempre bom


e assanhava as tardes


Refaça o verso


que mantinha sempre tesa


a minha rima


firme


confirme


o ardor dessas jorradas


de versos que nos bolinaram os dois


a dois


Pense em mim


e me visite no correio


de pombos onde a gente se confunde


Repito:Se meta na minha vida


outra vez meta


Remeta.



Resposta - MIGHIAN DANAE


Ela decidiu sozinha que, aos sete meses de namoro, ele merecia comer-lhe o cu. Quando chegasse a tal data, ela teria certeza que o amaria o suficiente para entregar-se de corpo e alma, finalmente. Contabilizou quantas vezes haviam transado: cento e trinta e cinco vezes até aquele dia, e lhe faltavam duas semanas para o tão esperado dia oito, que era quando se completavam os sete meses e ele chegaria de uma longa viagem. Nada poderia ser mais confirmador do que todas essas datas acontecendo assim, num perfeito bailar de números, horas, ânsias, desejos se encontrando.


Claro que não, ele não sabia. Era segredo, aliás, o único, já que ele lhe desvendava tudo assim aos poucos. Mas ela gostava desse jogo de esconde e mostra, se sentia importante pra ele, pro mundo dele, ele era seu, ela dele, que mais importaria? Entregava sim, entregava tudo, até mesmos seus códigos mais secretos, aqueles que os homens nem mesmo precisam saber para se apaixonar ou odiar uma mulher. Ele, ávido por ela, bebia as informações todas, gota a gota, esperando descobrir então que diabos ela escondia dentro de si que o enfeitiçava desse modo, que o enlaçava mais e mais pra perto dela, que o fazia refém dos seus caprichos, que lhe fazia correr o mundo pra encontrar apenas o gosto de um seu beijo.


Talvez fosse o cu. Mas isso era ela quem não sabia, e até tinha medo de que assim o fosse, por que lhe ofertando o dito cujo, não haveria mais nenhuma descoberta brilhante, a não ser aquelas típicas do cotidiano que tudo embrutece, como daquela vez que lhe viu escovar os dentes, emitindo um barulho estranho que ela nunca conseguiu deixar de fazer, mesmo depois de tanto tempo de prática.


Sondou o terreno. Ele foi cortês em dizer-lhe indiretamente que esse não era o foco principal do namoro, que estava contente com o namoro... Mas, mais à noitinha, quando foram dormir após um jantar à luz de velas, ele lhe confidenciou que um dos seus desejos era conhecer a tal cavidade da mulher que amasse de verdade. E para completar a declaração, afirmou, comovido: "Você é a mulher que eu amo de verdade!".


Se for o cu o causador de tal fenômeno, o do mistério e desejo, pensava ela, ele vai procurar em mim alguma coisa que valha a pena tudo isso, as viagens, as serenatas, os bombons de gosto exótico, por que devia sim haver numa mulher como ela interesses outros que não apenas seus orifícios espalhados pelo corpo. Mas que tinha receio do encanto acabar, ah, isso tinha.


Mas que fazer? Ela também estava ali, incendiada de vontade para saber como era que se processava tal feito amoroso. Amoroso sim, já havia se consultado com amigas que lhe disseram ser possível que tal ato fosse executado com amor, bastando para isso que o parceiro tivesse calma com a inexperiência da mulher amada, pois afinal, estava ela ali, com toda a boa vontade do mundo a dar-lhe o cu, não seria pedir muito que fosse um cavalheiro. Havia, além disso, lido várias matérias sobre o tema, como para se confirmar que aquilo não era assim tão bizarro, também para anotar o nome daquela pomadinha indispensável à via dolorosa, que na verdade, confidenciava aquela amiga mais saidinha, era apenas fachada para o enorme prazer sentido logo depois.


Bem, estava então preparada. Previu muita coisa, tudo assim disposto. Mas não poderia prever que naquele sábado, uma semana antes de completarem os sete meses de amor e cumplicidade, ele fosse pôr um fim em tudo aquilo. A vizinha. Sim, a vizinha de sonhos adolescentes havia voltado de uma viagem ao exterior, mais bonita, encorpada e ainda solteira. Propôs-lhe sexo sem envolvimento. Ele aceitou, e se apaixonou.


Ela por sua vez, não tinha vizinhos para esperar. Tomou o maior porre da sua vida. Chegou em casa bêbada demais para entabular qualquer assunto, mas a sua mãe, senhora do tipo insone e bisbilhoteira, apareceu à porta do banheiro com cara assustada:
- Mas que você tem, chorando?
- Acabou, mãe!
- O quê, minha filha?
- O namoro.
- Oh...
Dirigiu-se a mãe para o quarto, mas de lá pôde ouvir uma voz abafada, que de dentro do banheiro vinha possuída de ira:
- Mas pelo menos, mamãe, o cu ainda está aqui!


Migh Danae.
http://www.saboramii.blogspot.com/

Homo Erectus - Marcelino Freire

Esse vídeo foi exibido ontem no Encontro de Literatura Erótica. Vale a pena conferir...Como ainda estou aprendendo, só sei incluir links. Amanhã, postarei mais coisas que hoje estou muito cansada para pensar nesta temática...risos

http://www.youtube.com/watch?v=x8Imk7B7s1c

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

FELICIDADE - Poema coletivo produzido durante o workshop pelos alunos da Oficina de Literatura com Akins Kinte e Elizandra Souza.























Ilustração: Bylla - Penápolis/SP

Um dia eu vou conquistar, a minha liberdade
Mas eu não posso perder
É só eu preservar
Porque pra cá eu não vou voltar
E assim a felicidade eu vou encontrar.

Briso na brisa do vento
E no meu pensamento eu procuro a solução
Em caminhos curtos e estreitos, mas com os pés no chão
Em noite de serenata te dedico belas cantigas
Fujo dos espinhos e corro de intrigas.

Não perco a fé nem depois da tragédia
Não vou desistir como um covarde, um comédia
Assim não há bem que dure eternamente
Também não existe mal para sempre


Trago na mente, palavras conscientes,
distantes e pacientes,
mas eu vou além, no meio do mal me inspirando no bem
Entre versos e poema existirá um porém

Minhas necessidades serão alcançadas,
encontrarei a felicidade
através das guerras travadas
pelas mentes literárias.

**Poema coletivo produzido durante o workshop pelos alunos da Oficina de Literatura com Akins Kinte.10/02/2009


Workshop de Literatura – Fazenda do Carmo
Coordenação: Akins Kinte e Elizandra Souza
Tema: Felicidade

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Akins Kinte recita poesias eróticas no Sesc Pinheiros

Foto: Uwe Ommer

Nesta quarta-feira, dia 11 de fevereiro de 2009, ás 19h - o poeta Akins Kinte estará recitando versos eróticos no Projeto Entrelinhas do Corpo, no qual saúda as delicadezas do erotismo e suas entrelinhas no Encontro de Literatura Erótica, com debates, oficinas e leituras, a programação estimula a imaginação e quer aguçar o senso crítico dos leitores.

Os convidados para o debate são: Marcelino Freire, Ivan Marques, Gonçalo Júnior e mediação de Ricardo Santhiago. Recital de poesias com o poeta Akins Kinte.

100 vagas. Retirada de senha no local. Sala de Oficinas, 2º andar.

Grátis Dia(s) 11/02 Quarta, às 19h.

SESC Pinheiros Rua Paes Leme, 195 (proximo do Largo da Batata)