segunda-feira, 26 de abril de 2010

A bola vai, a vida vêm...

As Mulheres na Várzea....

Com o time tatuado no peito

Dribla a segunda, a primeira e a terceira

Dança no meio do campo e na beira

Troca o vestido pelo calção

O salto pela chuteira

A meia de seda pelo meião

Bebe pelos pés a força ancestral

Frágil é apenas a grama

Que não sobreviveu no lamaçal...

Mulheres que costuram histórias

Na medida em que a bola vai, a vida vêm

Sábado abre alas,

Domingo se cala

Chega segunda.

Seus avessos contém pratos e patroas

Crianças nas costas e nos seios

Suas mãos perfumadas de cheiros...

Mulheres na várzea

Da vazão ao infinito

De um universo mais bonito

Uma sinestesia de alegria e dor

Um sopro de vida e um suspiro de gol

Risadas ritmadas aos gritos

Fogos que estrelam o céu

A bateria que cala os olhos, quando a bola rola

A mulher que espera o samba, o abraço, o batuque

O coração que berra, emudece e insulta...

A bola vai e a vida vêm

Dribla, corre e desvia

Vestidas de terra, gira e gira,

Segura a bandeira e firma o passo.

recebe a força do barro

Rola, rola, rola

Mas a chuteira crava suas garras no chão

Mulheres na várzea

Mantém o olhar de rebeldia

Lustram o emblema do time que aprecia

Em volta do campo, enquanto eles jogam

Elas cultuam seus rituais:

Torce pelo gol,

Retorce a água no enxágüe do uniforme

Torce para que o jogador não retorça o pé

Contorce o frio no abdômen

Vibra com o destroce do adversário

A poeira entre o pé, a bola e o chão

A bola vai e a vida vêm....

*Poema produzido para os extras do documentário Várzea: a bola rolada na beira do coração, do poeta Akins Kinte, lançado em fevereiro de 2010.



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