O ato público e cultural “A Paixão de Claudia”, articulado pela empresa Cubo Preto Ensino de Arte e Cultura Ltda., juntamente com ONGs, associações, coletivos culturais, empresas, órgãos da imprensa formal e informal e por profissionais de várias áreas das artes e interessados na vida em sociedade de modo geral, constitui-se como uma homenagem à mulher negra, trabalhadora e mãe brasileira, Claudia da Silva Ferreira, de 38 anos, que no dia 16 de março de 2014, foi atingida por uma bala perdida dispara por agentes da Polícia Militar do Rio de Janeiro, socorrida pela mesma ainda em vida e arrastada por cerca de 350 metros, chegando ao hospital morta e com partes de seu corpo em carne viva.
Mãe de quatro filhos biológicos e educadora de quatro sobrinhos, entendemos que o que houve configura-se como uma tragédia horrenda e, diante do silêncio com o qual a imprensa e a sociedade civil recebeu e reagiu diante desta barbaridade ocorrida com uma mulher negra que, como muitas outras alicerça o país por meio de sua força de trabalho, decidimos que era este o momento de prestar uma homenagem às muitas mães pretas que criam, educam, trabalham para a criação e educação dos filhos negros e brancos deste Brasil. Negros quando biólogos, brancos quando filhos de seus empregadores. Isso desde o século XVI. Não é aceitável tamanha anestesia diante de uma vida perdida de maneira violenta e cruel e de uma família negra destruída. E se fosse uma mulher de família branca e de classe media? Haveria maior comoção social? Acreditamos veemente que sim. Uma vida não vale mais do que outra, nós brasileiros precisamos compreender.
Desse modo, escolheu-se a data de 18 de abril por ser feriado, ou seja, não serão causados danos ao transporte da cidade e ao direito de ir e vir dos cidadãos paulistanos. Para além disso, a data relembra a Paixão de Cristo, assassinado em nome da liberdade da humanidade, levando com sua vida os pecados dos homens. Compreendemos que essa Claudia, e muitas outras Claudias, levam em seus corpos e em suas vidas cotidianas as chagas de uma sociedade desigual, que não as confere o devido valor enquanto força motriz da nação em eterno desenvolvimento e enquanto mulheres que são, seres humanos com sonhos, desejos, necessidades, direitos e deveres.
Por meio de ações e manifestações, performances e apresentações realizadas nas mais diversas linguagens das artes, nos reunimos para celebrar a mãe preta do Brasil, as famílias negras, as famílias coloridas, o direito à vida, ao respeito ao cidadão, à cidadã, aos acessos básicos ao direito de ir e vir, à saúde, à educação, à moradia, ao fim dessa condição de cidadania de segunda classe a qual está relegada parte expressiva da população brasileira.
Definido o percurso do dia 18 de abril, nos concentraremos às 14h vestidos de preto e carregando rosas vermelhas defronte à Igreja da Nossa Senhora da Consolação. Preto em algumas sociedades tradicionais africanas remete à família, ao lar. Rosa vermelha, uma beleza que a própria natureza armou com espinhos para se proteger de seus opressores.
Da Igreja da Nossa Senhora da Consolação, às 15h, caminharemos ao som de atabaques que invocam nossos ancestrais africanos que com seus braços, pernas, sangue e suor, erigiram o Brasil, até a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, localizada no Largo do Paissandu, onde encontra-se a estátua da Mãe Preta, feita pelo artista Júlio Guerra representando todas as mães pretas que foram e são base desse Brasil.
No Largo do Paissandu será armado um palco no qual, das 16h às 20h, ocorrerão apresentações pacíficas, entretanto não menos indignadas e perplexas, de música, dança, artes cênicas, literatura e artes visuais, sempre com foco no tema do ato cultural porque na poesia das artes há reflexões que compreendemos como precisas e profundas.
Estimamos que desse ato cultural participem 2000 pessoas conforme confabulações entre parceiros e voluntários.
Sem mulher negra não teríamos nada. A sociedade brasileira precisa de suas "Claudias" para continuar produzindo, criando, dançando, passeando, trabalhando, transando, vivendo.
É hora de nos mostrarmos nesse ato cultural e artístico que não visa o "vandalismo", porque faremos o contrário do que esperam da gente de cor, faremos com arte.
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Contato para informações, colaborações, sugestões e somas – só vale somar, o Estado já subtrai o bastante: paixaodeclaudia@gmail.com
Quem não puder colaborar basta aparecer no dia 18 de abril defronte à Igreja da Consolação, às 14h, com sua roupa preta e sua rosa vermelha.
Vamos mantendo os interessados informados por aqui.