Colecionadores fazem loucuras para conseguir um vinil de sua preferência
Em meio a poeiras, empilhados em alguma estante velha ou mesmo no chão, começa a garimpagem para encontrar o objeto de desejo de uns poucos e desprezo de uma sociedade tecnológica.
Em meio a poeiras, empilhados em alguma estante velha ou mesmo no chão, começa a garimpagem para encontrar o objeto de desejo de uns poucos e desprezo de uma sociedade tecnológica.
Assim, mobilizados pela paixão, os colecionadores de vinis fazem verdadeiras loucuras para adquiri-los, sendo que está cada vez mais difícil encontrá-los em um bom estado. Numa dessas buscas, Dj Erry-G ou Rogério Dias da Silva, 30, passou 10 horas consecutivas dentro de um sebo, sem perceber que estava sem comer, beber e respirando muito mal por causa do pó. “Hoje tenho problemas de renite e sinusite, por ter o sebo como minha segunda casa”, relata Rogério.
Seu fascínio pelas bolachas começou nas festas de família, já que nunca dançava, ficava responsável por virar os discos e a partir daí este sentimento só cresceu. Tem uma coleção de 3.000 Lps, trabalha como dj e é idealizador do projeto cultural Dos tambores aos Toca Discos, no qual faz um resgate da música negra e sua ancestralidade.
“Acabei com um casamento de 13 anos, porque minha ex-esposa queria disputar espaço com os meus discos, propôs que eu escolhesse: ela ou eles. Fiz minha escolha e não me arrependo”, declara o Dj Cidão, 54 anos.
Sua história com vinil iniciou na época da adolescência, freqüentando os bailes black’s e admirando os discotecários, que eram as pessoas responsáveis por fazer o baile. “Existia uma regra de um discotecário, não ver os discos do outro e as pessoas saiam de várias regiões da cidade para ouvir uma música especifica que eles tinham tocado no baile e o público não sabia qual era”, afirma Cidão. Atualmente tem em torno de 4.000 discos.
“A primeira vez que vi um vinil, foi um amigo meu que mostrou. Eu estava moendo vidro na calçada para fazer serrol para pipa, ele tinha acabado de comprar um LP e me chamou para escutar na casa dele. Fiquei impressionado. Pedi para que ele me presenteasse, mas ele foi escrevendo seu nome na capa do disco e disse que ele nunca seria meu”, relata Márcio Pequeno, 43 anos, conhecido como Dj Lula Super Flash.
Uma das loucuras que Lula fez: “quando eu era office boy, meu patrão pediu que eu fosse retirar uma determinada quantia que equivale hoje á 3 mil reais, mas na volta passei em frente a uma loja de vinis importados, entrei e comprei o dinheiro todo de disco. Cheguei na empresa e pedi para ser mandado embora, pois tinha gastado todo o dinheiro”.
Seus discos preferidos são os compactos, que são os menores que eram feitos para divulgação nas rádios e casas de shows, Atualmente tem mais de 8.000 unidades, trabalha com música e é idealizador do projeto Vinil é Cultura, encontro semanal de colecionadores, dj’s e lojistas.
Segundo Fernando Da Espiritu Santo, 62, lojista de LP’s na região central há 37 anos, casos de separações conjugais, troca de vinil por carro, pagamento de valores altos, entre outras, são comuns entre os apreciadores das bolachas. Fernando foi o primeiro que permitiu que os discos fossem ouvidos antes da compra, “percebi que os meus clientes, nunca sabiam qual música ou cantor queriam levar e por isso coloquei uma vitrola, para que eles pudessem ouvir”.
Um dos pontos em comuns, entre Lula, Cidão, Erry-G e Fernando é que a música armazenada em vinil precisa ser compartilhada, pois a música brasileira é muito rica e desconhecida para a maioria das pessoas. Mas discordam em serem chamados de colecionadores, pois acreditam que estes são os que matam a música, trancafiando-a dentro de uma sala fria e sem vida.
*Por Elizandra Souza, texto produzido para a disciplina de Criação de Textos Jornalísticos III.