quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Agenda da Periferia divulga o lançamento do livro Águas da Cabaça

Editorial

Palavra preta, feminina e uterina

Se ao falarmos sobre literatura negra as pessoas ainda fazem cara de espanto e tentam lembrar algum nome significativo nos cânones brasileiros, ao somarmos a questão de gênero então, essa invisibilidade torna-se ainda mais latente. Por isso é sempre uma satisfação imensa encontrar em nossa negra caminhada, escritoras e/ou poesias que nos traduzam, nos inspiram e nos movam. É a arte que tira a gente daquele lugar confortável onde senta o comodismo e nos dá uma sacudida para vermos a vida com outros olhos.
 
Conheço a poesia de Elizandra Souza há alguns anos, e é evidente o crescimento e desabrochar dessa poeta. Faz-se em um processo em que quase sempre acontece de dentro para fora, e com ela não foi diferente: A princípio em cachos tímidos, e depois endredada, sintonizada com sua ancestralidade. Carrega suas raízes na cabeça, fazendo de seu Ori o outdoor da sua negritude. E das pontas arredondadas dos seus dreads de fogo, nascem uma escrita preta uterina, mais ousada e segura de si. Águas da Cabaça representa, a meu ver, essa fase de transição, um divisor de águas.
 
Podemos encontrar a menina-poeta-Elizandra, revestida de certa ingenuidade, mas é só virar a página para nos debatermos com a mulherpoeta- Elizandra: forte, determinada e madura. Ela sabe exatamente para onde e como quer ir. E é nessa cabaça que ela traz sonhos, esperanças e água/vida. Água essa que limpa e leva tudo que não for bom embora. A água que rompe barragens, faz nascer rios, corre para o mar e vira imensidão, o imensurável.
 
A poesia de Elizandra Souza dança ao ritmo do hip-hop, dialoga com a juventude negra e desobedece ao racismo, quando se faz voz de si mesma e das suas. Trazendo a tona nossas dores, alegrias e anseios, do micro ao macro, da perifa de São Paulo para o mundo; sem perder uma identidade preta, feminina e uterina.

*Texto retirado do prefácio de Mel Adún, para o livro Águas da Cabaça, de Elizandra Souza.

Confira a programação das periferias de SP: Agenda Cultural da Periferia
 

 

2 comentários:

Vinícius Borba disse...

Que lindo tudo isso aqui Mjiba....!!!
Esse lançamento é algo que ainda me aflige, não meti o primeiro e creio esteja tão engajado nos lançamentos de tantos parceiros que ainda não me tenha firmado pra escrever os meus. Mas dou-lhe parabéns sinceríssimos pois há distância, pelas nossas ponte queridas Alânias acabei conhecendo um pouquinho mais de seu corre. E como pai e esposo de mulheres pretas, muitoo me alegra ver que na capa contigo divide Pricila, Capulana tão amada e parceira doutros corres. "Ela está no horizonte!--disse Fernando Birri--, ando dez passos e ela segue dez passos mais para lá. Me acero três passos ao lado e assim ela segue. Por mais que não a veja, ela sempre estará lá. Para que serve a Utopia? Para isso serve, para caminhar" Comunica negona, tamujunto

Mjiba disse...

Agradecida, Vinicius Borba a gente segue na luta, com as palavras, com a sociedade, com o pertencimento. Gostei mto do que escreveu...Alânia, Capulanas minhas irmãs que me proporcionam sonhar alto...acreditar que posso voar.Essa utopia de dias melhores e felizes que nos mobiliza...Asé.