Ando numa subjetividade não sei se global, capitalista ou individualização planetária, lendo as mulheres negras que conversam diretamente com a minha alma. Construindo e me descontruindo em suas palavras. Me sinto uma pintura que virou quebra-cabeça, peças avulsas precisando de um encaixe em algo, um sentido para existir. Será que entrei na era do existencialismo? Experimentalismo? Subjetivismo? Individualismo? Narcisismo?Enfim, o que dentro de mim toca são algumas escritas das mulheres negras nas quais me apaixono a cada dia.
Lendo a Coleção Aplausos/ Perfil – Ruth de Souza – Estrela Negra encontrei este trecho que me sacudiu “ Quando menina, li uma matéria sobre a Harvard University, em Washington, na Revista Life. Tinha uma foto belíssima, que mostrava estudantes negros, muito elegantes na frente da universidade. Durante anos alimentei o sonho de um dia poder freqüentar um lugar como aquele. Anos mais tarde, quando fui estudar nos Estados Unidos, me senti entrando naquele recorte de revista que vinha guardando fazia anos.” Quando li este trecho me alimentou e me questionei sobre quais sonhos e quais projetos traço e alimento.
Navegando em outras escritas, Alice Walker Nos Tempos dos meus familiares têm personagens que é um retrato biográfico do leitor que até assusta.Neste livro fui Fanny em alguns momentos, ela apaixonada por literatura africana e afro-americana tentando fazer com que o seu esposo, um historiador, lesse pelo menos um dos livros, nos quais ela estava espiritualmente amando. Mas ele não lia e muito menos folheava. Para Fanny era um desestimulante interesse de seu esposo de conhecê-la melhor.
Outra leitura recente, também da Coleção Aplausos o perfil de Zezé Motta, minha identificação foi maior do que com a Ruth de Souza,mas por conta da intensidade do engajamento das questões raciais. “ Em 1969, viajei aos Estados Unidos com o grupo Augusto Boal para encenar Arena conta Bolívar e Arena conta Zumbi. Ficamos três meses na estrada (...)Quando nos apresentamos no Harlem, um grupo de militantes negros ficou chocado com o fato de eu usar peruca. Era o auge do black is beautiful, a gente tinha que manter as características originais da raça (...)
Neste dia, voltei para o hotel, tomei um banho demorado e deixei meu cabelo voltar ao natural. É que, além da peruca, eu fazia alisamento com pente quente. Ali eu comecei a me aceitar como negra. Saía nas ruas do Harlem e reparava que os negros americanos andavam de cabeça erguida. Não tinha essa postura subserviente que eu sentia no Brasil e em mim mesma. Essa viagem teve essa importância de fazer com que eu enxergasse meu país de fora.”
Como a minha paixão por Alice Walker foi aumentando, uma sede de lê-la todos os dias. E tem uma química estranha no mundo que quando se conhece um autor, tudo que está como nome dele, parece carregar um letreiro néon que te prende e liberta.
O Marciano montou uma banca com livros e lá estava piscando Vivendo pela palavra.Sim, era ela de novo querendo dialogar com a minha alma. Revelando como numa conversa suas experiências como escritora negra.
Escrevi tudo isso para dizer, que me apaixono pelas mulheres negras que leio. Sou tão elas, quanto a mim mesma. Como diz Katiara “ Só quando me descubro escrava é que me liberto”. Individualismo ou subjetividade recomendo que as conheça.
Axé
Elizandra Souza
Fontes:
- Ruth de Souza - Estrela Negra. Coleção Aplausos-Perfil. Autora: Maria Angela de Jesus. Imprensa Oficial.2004.
- Zezé Motta - Muito Prazer. Coleção Aplausos- Perfil. Autor: Rodrigo Murat.Imprensa Oficial.2005.
- Nos tempos dos meus familiares. Alice Walker.Editora Rocco.1990.
-Vivendo pela palavra. Alice Walker. Editora Rocco.1988.
2 comentários:
Mjiba, sempre bom passar por aqui e aprender um pouco mais sobre a cultura negra, que nem sempre tá estampada na cor, mas tá gritando na alma !
beijão
sempre com boa preposta de reflexão né nega, se eu não me engano foi Jorge ben quem disse "...Infelizmente o Brasil é o país dos brancos desinformados que na verdade são negros enganados..." acredto que desta forma, expondo os nossos pensamento, talvez diminue a falta de informação e aprendemos a ser verdadeiros.
beijos nega...
Postar um comentário