domingo, 28 de dezembro de 2008

IDENTIDADE(S)

Foto: Elizandra Souza

Sou dois mundos.

Isso já foi acordado.

Uma eu sou leve, alegre, amiga, disposta...

Agora a minha outra eu,

aquela que raras pessoas conhecem,

aquela que várias vezes elouquece

e desabafa nos textos verdades inquestionáveis,

vontades embaraçosas, segredos só seus;

essa já não é tão feliz.

Não, ela não é feliz.

Não na maneira convencional estabelecida.

Não no senso comum.

Ela é qualquer outra coisa menos sorriso,

menos fachada, menos ombro amigo.

Essa é sozinha, mas às vezes ela sorri, sim.

Sorri quando coloca pra fora aquelas bobagens

que todos devem pensar,

mas não chegam a verbalizar.

Surtar.

A minha eu desenquadrada se dá ao luxo de surtar.

Não se acanha com possíveis pensamentos

e nem pensa em servir de exemplo pra ninguém.

Que se dane ninguém!

Ela é livre, assim como a minha eu

tão feliz gostaria de ser.

A liberdade inexistente sem a limitação necessária

pra viver em sociedade.

Às vezes, como hoje, por exemplo,

bate uma tristeza tão grande,

uma vontade tão desesperada de chorar

e gritar e uivar as minhas penas...

Mas não dá. Não posso assustar os que me rodeiam.

Não tem ninguém aqui que possa me consolar

sem me cobrar a alegria que tanto parece comigo.

Existem só essas brigas de eus,

onde não importa quem ganhe,

eu sempre perco.

Autora: Mel Adún (poeta que admiro e quero que tenha sempre inspirações que me desnudem e diga de mim, coisas que nem eu mesma consegui ver).

Fonte: Cadernos Negros 31.

Um comentário:

Rogerio Pixote disse...

Eli, bom saber que o Mjiba tá na área!